domingo, 7 de março de 2010

Vamos de quê, arroz ou boi?..

Índios já transformam arrozais em pasto

Loide Gomes para o Estado de São Paulo

Os arrozais localizados na região de Surumu, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, a nordeste de Roraima, foram transformados em imensos campos de pasto pelos indígenas que ocuparam as fazendas
Os arrozais localizados na região de Surumu, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, a nordeste de Roraima, foram transformados em imensos campos de pasto pelos indígenas que ocuparam as fazendas. Os rizicultores foram expulsos em abril do ano passado, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela legalidade da demarcação em área contínua da reserva em 1,7 milhão de hectares.

As fazendas onde antes eram cultivados quase 13 mil hectares de arroz hoje abrigam 1.300 cabeças de gado. O rebanho é comunitário e atende às aldeias localizadas nas regiões de Surumu e Baixo Cotingo. Segundo Júlio Macuxi, coordenador do Departamento de Projetos e Convênios do Conselho Indígena de Roraima (CIR), a pecuária extensiva cumpre duas funções: gera renda e fornece o esterco usado como adubo orgânico na produção de alimentos.

Se por um lado os indígenas encontraram uma finalidade para as fazendas, os arrozeiros ainda lutam para reorganizar a produção fora da reserva. Nenhum deles conseguiu reassentamento. Quem plantou teve de arrendar terras, o que aumentou o custo de produção embora a lavoura seja menor.

Nelson Itikawa, presidente da Associação dos Rizicultores de Roraima, vai gastar R$ 500 mil ao ano para utilizar dois mil hectares nos municípios de Cantá e Normandia. Na Raposa Serra do Sol ele cultivava 2,5 mil hectares de arroz.

Paulo César Quartiero, o maior produtor e líder da resistência contra a demarcação, está parado e não tem perspectiva de retomar o trabalho. Não me interessa arrendar área porque o custo é muito elevado, disse.

NA JUSTIÇA
Quartiero também desistiu de reivindicar o reassentamento e concentra seus esforços em nova batalha judicial contra a decisão do STF que entregou as fazendas Providência e Depósito aos indígenas.

Seus advogados trabalham ainda em ação para cobrar da União indenização por danos morais e o lucro cessante pelo tempo que deixou de produzir por falta de terra. As fazendas são minhas. Sofri esbulho e fui tachado de monstro, alega.

Em janeiro do ano passado o presidente Lula transferiu seis milhões de hectares para Roraima, numa espécie de compensação pela Raposa Serra do Sol. Apesar disso, o Estado diz não ter áreas de lavrado (savana) disponíveis para destinar aos arrozeiros.

Noventa por cento das margens dos rios com características próprias para a produção de arroz são tituladas. Os outros 10% estão ocupados e o governo vai dar oportunidade para estas pessoas se regularizarem antes de retomar, informa Pedro Paulino Soares, presidente do Instituto de Terras de Roraima (Iteraima).

Já o Incra assegura que antes da transferência das terras não recebeu nenhum pedido de reassentamento dos arrozeiros e agora não tem mais imóveis rurais para realocá-los.
 
(recebido por e.mail)

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