quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Depredação do MST na fazenda da Cutrale deixa prejuízo de R$ 3 mi

Além dos 7 mil pés de laranja arrancados, foram destruídos ou danificados máquinas agrícolas, caminhões e casas
José Maria Tomazela, BOREBI (Quinta-Feira, 08 de Outubro de 2009)

Sob forte aparato policial, 350 militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) desocuparam ontem a Fazenda Santo Henrique, do grupo Cutrale, em Borebi, a 320 quilômetros de São Paulo, deixando para trás um rastro de destruição. Além dos 7 mil pés de laranja arrancados, foram encontrados 28 tratores danificados ou destruídos, caminhões e sistemas de irrigação sabotados, a sede e seis casas de colonos depredadas e pichadas. Houve furto de equipamentos, móveis, roupas e defensivos agrícolas.


"A impressão é de que passou um tsunami aqui", lamentou o gerente agrícola da propriedade, Claudinei Ferreti. O prejuízo de nove dias de ocupação pode chegar a R$ 3 milhões.

Os sem-terra prometiam resistir à ordem de desocupação imediata dada na terça-feira pela Justiça de Lençóis Paulista. Eles bloquearam o portão de entrada com caminhões e distribuíram galões de óleo diesel para atear fogo. O oficial de Justiça Fernando Fabian chegou acompanhado de 120 policiais militares, em 26 viaturas, um ônibus e um helicóptero. "Estamos preparados para usar a força, se for necessário", avisou o tenente-coronel Benedito Meira, comandante da operação.

O líder Paulo Albuquerque, da direção estadual do MST, pediu tempo. Uma hora depois, avisou que os invasores fariam a desocupação. Informou que o grupo iria para os assentamentos Zumbi dos Palmares, em Iaras, e Agrocento, em Agudos.

Quando o último sem-terra saiu, seguindo um comboio - cinco caminhões, um ônibus e mais de 30 carros -, a Polícia Militar autorizou a entrada da imprensa e de funcionários. A Polícia Civil já iniciou a perícia.

SAQUE
Sujeira, lixo, peças e destroços de máquinas estavam por toda parte. O cheiro de fezes se misturava ao de laranja podre. O gerente constatou que o depósito de defensivos tinha sido saqueado. "Por baixo, levaram mais de R$ 100 mil", estimou.

As câmeras de vigilância desapareceram. Os tratores estavam depenados, sem bateria, motor de arranque, filtros, faróis e com a fiação cortada. "Puseram areia no motor e ligaram só para fundir", contou Ferreti.

Dois tratores foram partidos ao meio, não se sabe como, e três sumiram. Um caminhão estava no barro, na beira de uma represa. Cerca de 15 mil litros de diesel foram subtraídos.

Portas e janelas das casas estavam arrombadas. Móveis, televisores, roupas, louças, utensílios de cozinha, além de lâmpadas e chapas de fogão, foram levados. Os sofás restantes tinham rasgos e as paredes, pichações como "MST em ação" e "Revolucionários em Luta".

"TERRORISTAS"
O motorista Edmilson Marcos, da Prefeitura de Borebi, que transportou água para apagar um possível incêndio, viu um militante arrancando um bebedouro. "Eles são terroristas", disse. O ex-sem-terra Alfeu Agnaldo Barbosa, que trabalha na fazenda, disse que os assentados da região ficaram revoltados. "Grande parte das famílias depende da Cutrale", afirmou.

O gerente informou que um cálculo minucioso dos prejuízos ficará pronto em três dias. Ele estimou o custo para formar um pé de laranja de cinco anos, no auge da produção, como os que foram arrancados, em US$ 200 por planta. Durante a invasão, pelo menos 90 mil caixas de laranja não foram colhidas e se perderam. Cada trator como os danificados vale cerca de R$ 45 mil.

Ferretti não acredita em ressarcimento. "Infelizmente, vamos ter de começar muita coisa do zero."

O delegado de Borebi, Jader Biazon, vai abrir inquérito por esbulho possessório, formação de quadrilha, furto, dano e progressão criminosa. "Temos a identificação de parte do grupo e tentaremos estabelecer autorias."

Albuquerque, do MST, não falou com a imprensa. Em nota, o movimento estadual não se manifestou sobre as acusações de furtos e danos. Alegou que as terras são públicas. "O governo e a Justiça precisam cumprir o seu papel e retomar essa área, que é um patrimônio do País e não pode ser utilizada para o benefício privado."
 

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