domingo, 16 de agosto de 2009

Gado vivo não afetaria carne de frigoríficos

Fonte: Diário do Pará
Foto: Ney Marcondes
Exportação do boi vivo não prejudica exportação de carne

O presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Gado (ABEG) e diretor do Sindicato da Indústria da Carne do Estado do Pará (Sindicarne), Daniel Freire, discorda frontalmente do presidente da União Indústrias Exportadoras de Carne do Estado do Pará (Uniec), Francisco Victer, que diz que o crescimento de 30% em relação ao ano passado da exportação de gado vivo estaria prejudicando a indústria frigorífica local. Para Freire, a exportação de boi vivo não prejudica exportação de carne, nem no Brasil, nem na Irlanda, nem na Austrália. Ele garante que a exportação de boi vivo é um nicho, que sempre existirá, independente de o comércio de carne estar ou não aquecido. “O boi vivo não concorre com a carne: são mercados diferentes. Um não exclui o outro. Mesmo se parasse a exportação de gado em pé, a exportação de carne não aumentaria um quilo sequer”, assegura.
Para comprovar essa posição, Freire cita como exemplo alguns países que, por entender que a exportação de gado só gera benefícios para a nação, além de exportar gado vivo ainda dão até subsídios aos pecuaristas - mesmo sendo esses países importadores de carne, como é o caso dos Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, Itália e Austrália (este o maior produtor e exportador do mundo).
No momento, os exportadores paraenses de carne enfrentam dificuldades devido ao fortalecimento do Real. A carne do Pará ainda se torna menos competitiva devido à restrição imposta a esse produto, seja de âmbito sanitário ou comercial, o que inviabiliza o comércio com os maiores mercados do mundo.
O Sindicarne possui dados sobre a exportação da carne paraense que confirmam essa realidade: os países europeus compram o filé por US$ 14 mil a tonelada e para o Oriente Médio – um dos únicos mercados onde a carne paraense é aceita, mesmo com os rebanhos já estando livres da febre aftosa –, o valor por tonelada cai para US$ 6 mil, menos da metade do preço pago na Europa.
Já o contra-filé (cada boi contém seis quilos, em média) – outra carne de alto valor no mercado – é comercializado na Europa a US$ 7 mil a tonelada, no Oriente cai para US$ 4.300, numa perda de quase R$ 5 por arroba.“Infelizmente há um forte entrave burocrático que nos impede de chegar a outros países. O maior problema da carne paraense é, na realidade, a perda de competitividade pela restrição de mercado”, observa Daniel Freire. E isso é, segundo ele, consequência, também, de uma reserva de mercado patrocinada por grandes indústrias do sul aqui instaladas , que exportam a partir de outros Estados para os principais países consumidores – particularmente os europeus – e, por isso não haveria nenhum interesse em “liberar” o Pará, para aumentar a competitividade sobretudo na Europa, explica.

RESERVA DE MERCADO PREJUDICA INDÚSTRIA DE CARNE DO PARÁ
Hoje, a Uniec, entidade estadual criada para defender os interesses das indústrias de carne do Pará , presidida por Francisco Victer, conta com sete associados: quatro deles integram um grupo do Sul e um que é um dos maiores exportadores de gado vivo do Brasil. “O Pará apresenta condições geográficas privilegiadas em relação à exportação, porque fica mais próximo da América, Caribe, Europa, África e Oriente Médio comparando-se com outros estados da federação”, explica Freire.
Essa situação, nos transformou no maior exportador de boi vivo. Assim, poderíamos ser também o maior exportador de carne. Porém, essa reserva de mercado impõe várias dificuldades. Na verdade, as maiores plantas (frigoríficos) exportadoras de carne estão no Sudeste e Centro-Oeste. Então, não há interesse em privilegiar o Pará”, critica o exportador de boi vivo.
A situação do Estado em relação à ociosidade do resto do país é a mesma . Observa-se que houve queda de produção de carne mesmo naqueles que atendem maior número de países: o estado de São Paulo teve uma ociosidade de 18% no ano; Minas Gerais, 22%; Paraná, 40%; Mato Grosso, 27%; Mato Grosso do Sul, 18% e o Pará 19% (Fonte Scot), lembrando que os paraenses são os maiores exportadores de gado vivo do Brasil.A alternativa que sugere seria a Uniec lutar para a liberação da nossa carne fazendo seus associados se unirem, juntar suas plantas e brigar com disposição para entrar nos grandes mercados ao invés de perder tempo bombardeando a economia do Pará, levantando bandeira contra a exportação do boi, disse.
ABATE CLANDESTINO
Para Freire, os críticos da exportação do boi vivo deveriam estar preocupados com o abate clandestino de 600 a 700 mil cabeças ao ano (quase o dobro da exportação), que maltrata os animais, abatidos sem os preceitos de bem-estar, não gerando tributos e pondo em risco a saúde pública, já que a carne sem procedência não passa por controles sanitários. Para o dirigente da ABEG, o boi vivo exportado não faz falta para as indústrias. “É muito simples: somando-se os 600 mil bois do clandestinos aos 350 mil exportados e aos 2,5 milhões estimados que serão abatidos com certificação, não chegam ao desfrute do Estado que é da ordem de 4,5 milhões de cabeças. Por isso, o boi do Pará é o mais barato do Brasil”.
A exportação do boi vivo, segundo o o presidente da ABEG, é um negócio lícito, renovável, que gera empregos e traz recursos de fora do país. “Esse dinheiro, fruto da exportação”, ressalta, “fica praticamente todo (99%) aqui no Estado e a pecuária paraense emprega diretamente, 410 mil pessoas”, diz. De acordo com uma pesquisa recente da Adepará verificou-se que 90% das propriedades pecuárias têm até 200 cabeças, ou seja, é uma atividade predominantemente familiar.
Segundo Freire, esse é um recurso que o governo não contava. Ainda mais: o boi vivo é o quarto produto paraense mais exportado. Os três primeiros são ocupados produtos não renováveis – os minerais.

BOI VIVO DÁ R$ 800 MILHÕES POR ANO PARA O PIB DO ESTADO
Freire garante que os animais exportados vivos não sofrem quaisquer tipos de maus-tratos durante o transporte em navios-gaiolas. “Investimos milhões de dólares na melhoria dos entrepostos de exportação que, inclusive, foram motivo de orgulho para o Brasil durante a apresentação em Bruxelas(Bélgica) dessas fazendas de apoio pela chefe do Núcleo de Bem Estar animal do MAPA, doutor Andrea Parrila. Quem desejar pode comprovar isso in loco”, desafia.
Segundo Freire, “o gado é retirado de fazendas selecionadas, com autorização do Ministério da Agricultura e Abastecimento, pré-adaptado à alimentação fornecida no navio, no porto de desembarque o boi é pesado e entregue ao comprador com o mesmo peso, na maior parte dos casos o boi até engorda”, diz Daniel.
Recentemente foi divulgado, por um grande jornal, que 12% dos bois embarcados para o Líbano morriam . “Isto é um absurdo. Nenhum negócio sobreviveria a uma perda deste nível, nosso objetivo é ganhar peso, na pior das hipóteses a quebra zero, nunca ocorrem maus-tratos. Somos exportadores e não loucos”, diz o presidente da ABEG. “ O comprador internacional é exigente e quer receber o que comprou e nós obedecemos a um protocolo sanitário negociado entre o país importador e o Brasil”. Para Freire, a ONG que divulga tal mentira é irlandesa e a sua ideia é “beneficiar aquele país, nosso concorrente, como acabam de fazer pedindo o embargo da carne do Brasil”.
Entre os vários benefícios trazidos pelo comércio do boi vivo destacam-se a indústria do confinamento e a alimentação. Foram 80 milhões de quilos de alimentos exportados junto com os bois – com isso a demanda por área de pastagem fica reduzida. “Aumentamos a produtividade sem precisar desmatar, além de agregar valores”, acrescenta.
Caso as exportações de boi vivo fossem suspensas, o PIB do Estado perderia R$ 800 milhões por ano ano e os municípios, das regiões produtoras sofreriam com o empobrecimento súbito, obrigando a paralisação dos projetos sociais em andamento e reduzindo as atividades comerciais - e, em alguns casos, industriais.
Os associados da ABEG aderiram voluntariamente ao TAC do Ministério Público Federal. Porquanto, vêm, há muito, cumprindo as exigências ali constantes, pois, são as mesmas do mercado internacional. Ainda, segundo Freire, “a exportação de animais vivos oferece oportunidades para pequenos produtores de gado e é economicamente sustentável, ambientalmente responsável e socialmente inclusiva”.



Link original: http://www.diariodopara.com.br/noticiafullv2.php?idnot=56462

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