quarta-feira, 8 de junho de 2011

UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA

        Simplesmente chocante, porém muito esclarecedora a matéria publicada na revista Veja da semana passada abordando a situação atual da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, demarcada no ano de 2009 no estado de Roraima. 
Para quem não se lembra do que aconteceu naquela ocasião, um pequeno resumo: Contrariando o bom senso e o apelo, inclusive do próprio estado de Roraima, representado pelo Governador e políticos locais, o Governo Federal resolveu pela demarcação contínua daquela imensidão de 1,7 milhões de hectares no norte do Brasil. Numa clara demonstração de fraqueza e desrespeito ao que no passado se entendia como “soberania nacional”, o governo lulista cedeu às pressões de governos europeus e ONGs indigenistas, jogando na lata de lixo os documentos de posse, alguns com mais de 100 anos de emissão, que o próprio Governo Federal havia emitido, quando da chegada de agricultores vindos dos sul do país. Em meio a um conflituoso processo demarcatório os preceitos básicos constitucionais brasileiros do direito adquirido, importantes a qualquer nação que se diz democrática, foram amplamente desrespeitados.
É importante que se diga que havia uma convivência totalmente pacífica entre índios e brancos no interior da Raposa Serra do Sol, onde ambos os povos cresciam economicamente, graças ao trinômio: agricultura, pecuária e comércio.  Grande parte dos índios naquela época foi contrária à demarcação contínua da Reserva, pois mesmo entre eles havia a percepção da importância da manutenção das explorações já consolidadas.  Pois bem, tudo de ruim que se previu naquele momento acabou acontecendo, conforme mostra a reportagem de Veja.
Primeiramente os agricultores, expulsos a pontapés e golpes de cassetetes, perderam suas terras e muitos vivem desalojados na cidade de Boa Vista aguardando promessas de um novo assentamento, o que certamente não acontecerá.  Um deles, ouvido pela reportagem, transformou-se de pecuarista em vendedor de espetinhos nas ruas da cidade.  Como normalmente acontece nos casos de desapropriação para criação ou ampliação de reservas indígenas, as terras não são indenizadas aos antigos proprietários, apenas as benfeitorias são passíveis de indenização, geralmente por valores irrisórios pagos sem muito critério.  Descapitalizados e sem condições de novamente se inserirem no processo produtivo estes agricultores não perderam apenas as suas terras, perderam o sentimento nacionalista que os moveu no passado, ao migrarem de regiões mais desenvolvidas do sul do país para se embrenharem na região norte, num dos poucos exemplos de reforma agrária que vinha dando certo.
Os indígenas, por sua vez, tiveram ainda pior sorte.  Ao perderem a possibilidade de trabalho digno nas fazendas e com o declínio do comércio da região muitos abandonaram a Reserva, pelo total descaso a que foram submetidos.  A infra-estrutura de estradas e pontes, antes mantida pelos agricultores, hoje se encontra em total abandono.   O índio macuxi Adalto da Silva afirmou ao repórter da revista que atualmente vive catando latas e comida no aterro sanitário da capital do estado.  Infelizmente não é o único, pois segundo ele mesmo afirmou: “o lixo acabou virando a única forma de subsistência de muitos que moravam na Raposa Serra do Sol”.
Esta realidade avassaladora e cruel, infelizmente foi prevista por muitos.  Neste momento seria importante que aquelas pessoas que tanto defenderam a criação da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, voltassem ao local para ajudar estes brasileiros que foram considerados de segunda classe.  Onde estarão agora os artistas globais, os cantores de rock, os monarcas europeus, a FUNAI e até mesmo os Ministros do STF que determinaram a criação da Reserva em área contínua?  Fica cada vez mais evidente que o que estava em jogo no momento da demarcação não era a situação de índios e produtores, mas sim interesses escusos, que jamais serão revelados.
        As palavras do ex-pecuarista Wilson Alves Bezerra continuam ecoando insistentemente: “O que o Governo fez comigo, me dá vergonha de ser brasileiro”.  Se isto servir de consolo ao “seu” Wilson podemos até lhe assegurar que este sentimento não é privilégio seu.

Rogério Arioli Silva
Engenheiro Agrônomo e Produtor Rural


Enviada por: Clóvis Felix de Paula

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