Eucalipto tratado pode contribuir para redução do desmatamento na Amazônia
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Atualmente, a maior parte das espécies madeireiras amazônicas consideradas tradicionais e mais conhecidas no mercado consumidor, em razão de terem sido intensamente exploradas nos últimos anos, têm sua ocorrência natural bastante reduzida e estão em crescente processo de escasseamento e, em alguns casos, ameaçadas de extinção.
Entre essas espécies constam madeiras destinadas a várias aplicações, desde as mais requintadas (p. ex.: móveis de luxo, artigos decorativos, torneados e instrumentos musicais), passando pelas mais comuns (p. ex.: construção civil, peças estruturais, assoalhos e esquadrias), até as aplicações rústicas, com destaque ao meio rural (p. ex.: mourões, estacas, pontes e postes), principalmente em usos em que a madeira fica em contato com o solo, ambiente com alto grau de degradação.
São exemplos de espécies de madeiras amazônicas tradicionalmente utilizadas em contato com o solo: maçaranduba, itaúba, aroeira, acariquara e piqui. Essas espécies possuem alta durabilidade natural e são capazes de resistir por muitos anos, em boas condições de uso, em ambientes muito adversos. A durabilidade natural de uma madeira é definida como a vida média útil em serviço quando exposta a fatores não biológicos (temperatura, umidade, luminosidade, acidez, etc.) e biológicos, principalmente fungos apodrecedores e insetos que dela se alimentam (cupins).
Obedecendo a lei da oferta e da procura da economia, a escassez das madeiras nativas de alta durabilidade natural nas florestas amazônicas resulta na elevação do valor comercial no mercado consumidor. Desse modo, o preço de produtos, como mourões e estacas, está hoje muito elevado, inviabilizando economicamente o uso dessas espécies.
Uma excelente alternativa para o problema da escassez que encarece e inviabiliza a utilização das espécies nativas tradicionais é substituí-las por espécies plantadas de rápido crescimento, a exemplo do eucalipto, devidamente tratadas com preservativos químicos industriais.
Segundo os fabricantes de produtos preservativos, a madeira de eucalipto, a ser utilizada em contato com o solo (postes, estacas, mourões, etc.), tratada em autoclaves industriais por processos a vácuo e pressão, considerados os mais eficientes, dura em média 15 anos em serviço, podendo chegar na prática a 20 e até a 30 anos. Portanto, a durabilidade de madeira de eucalipto tratada é similar e até superior às melhores madeiras nativas tradicionais, apontando assim para a viabilidade técnica da sua utilização em substituição a essas.
Atualmente, no Acre, por exemplo, o preço de estacas de eucalipto para cercados tratadas em autoclave mostra-se bastante competitivo com o de estacas das espécies nativas utilizadas em contato com o solo, mesmo considerando os custos do tratamento preservativo e do transporte do centro-sul do País, pois não há no estado plantios dessa espécie e tampouco unidades industriais (usinas) de preservação por processos a vácuo e pressão.
Se forem importadas de estados produtores, estima-se que no Acre o preço de venda de estacas de eucalipto tratadas gire em torno de R$ 7 a unidade (calculado com base no preço médio nas usinas de São Paulo e Espírito Santo e o custo do frete desses locais para o Acre). Em Rio Branco, o preço médio da estaca de madeira nativa disponível (não foram encontradas as espécies tradicionais, mas sim de cumaru-ferro, madeira com durabilidade natural mediana, em torno de 10 anos em serviço, portanto, inferior às tradicionais) é de R$ 10 a unidade. Assim, a madeira de eucalipto é, ao mesmo tempo, mais barata e mais durável que as madeiras nativas disponíveis no comércio.
Outra vantagem, talvez a mais importante, de se utilizar no meio rural espécies plantadas e tratadas em substituição às tradicionais amazônicas é de ordem ambiental, uma vez que a pressão exploratória sobre as espécies nativas será reduzida, o que é muito positivo, não somente do ponto de vista de conservação e recomposição dos estoques naturais, como também para diminuir o desmatamento na Amazônia.
Artigo escrito por:
Henrique José Borges de Araújo
Engenheiro Florestal, M.Sc. pesquisador da Embrapa Acre
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