Editoria do Alerta em Rede
Em concorrido em maio passado em São Paulo, a Vale lançou oficialmente seu Fundo Vale para projetos socioambientais na Amazônia. Sete ONGs que atuam fortemente na região – Imazon, Instituto Floresta Tropical, The Nature Conservancy, Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Instituto Peabiru, Imaflora e Instituto Socioambiental (ISA) - participam da primeira fase do projeto, que conta com o aporte de R$ 51 milhões até 2012. [1]
Em caráter experimental desde o ano passado, o fundo já desembolsou R$ 7 milhões para tocar oito projetos em três áreas: promoção de municípios verdes, criação e consolidação de áreas protegidas, e monitoramento da região por satélite. De acordo com a Vale, a ideia é expandir o projeto para o exterior no futuro - países da África sem expertise em sustentabilidade e também para os vizinhos sul-americanos detentores de uma porção da floresta amazônica. “É o 3.0 da sustentabilidade. Queremos olhar mais além das nossas atividades e pensar o futuro do planeta”, disse Vânia Somavilla, diretora de meio ambiente da Vale.
É forçoso cogitar-se porque a Vale está financiando ONGs que, comprovadamente, fazem campanhas abertas contra empreendimentos na Amazônia que são de interesse declarado da empresa, como a hidrelétrica de Belo Monte. O Instituto Socioambiental (ISA), por exemplo, quando ainda se denominava Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), é um dos pioneiros na campanha contra a usina. Como este Alerta já documentou anteriormente, o Cedi foi uma das ONGs seminais para a realização do famoso Encontro de Altamira, ocorrido no início de 1989, que acabou por impedir a construção de Belo Monte e outras hidrelétricas projetadas para o rio Xingu e afluentes. Como conseqüência direta ou indireta desse acontecimento, eclodiu o “apagão” de 2001 e a Amazônia ficou “blindada” por quase 20 anos para a construção de qualquer hidrelétrica de porte.
Além disso, uma análise mais apurada das sete ONGs parceiras do Fundo Vale revela que todas elas integram, direta ou indiretamente, o "consórcio" de ONGs que a USAID montou para implementar a "governança ambiental" da Amazônia.
Uma das origens desta rede de ONGs foi a Iniciativa para Conservação da Bacia Amazônica (ABCI, na sigla em inglês), lançada pela USAID em junho de 2005, que não ocultou o propósito de coordenar as ações de diversos grupos ambientalistas e indigenistas nacionais e estrangeiros, reunindo-os em "consórcios" e provendo-os dos recursos e instrumentos de "governança ambiental" para o controle efetivo da região. A intenção era recrutar povos indígenas, "populações tradicionais" e ONGs nacionais e estrangeiras para criar uma rede que em nada difere de um exército de ocupação pós-moderno a serviço de um esquema de "governo mundial" controlado por grupos hegemônicos do Establishment anglo-americano. A denúncia então feita pelo jornalista Lorenzo Carrasco, do conselho editorial deste Alerta, ensejou uma oportuna intervenção do Ministério da Defesa e do Itamaraty, que determinou à USAID a suspensão momentânea do projeto. Entretanto, sabe-se que ele prossegue sob outras formas, com alguns dos seus programas tendo sido transferidos para certas ONGs do aparato ambientalista-indigenista. [2]
Veja-se, à guisa de exemplo recente, a breve descrição do Consórcio Paisagens Indígenas Brasil, da ONG “parceira” The Nature Conservancy:
Liderado pela The Nature Conservancy (TNC), o Consórcio Paisagens Indígenas Brasil tem como parceiros o IEB; a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB); o Conselho Indígena de Roraima (CIR); e o Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (IEPÉ). O Consórcio, apoiado pelo Programa de Meio Ambiente da Missão da Usaid Brasil, tem como objetivo fortalecer organizações indígenas da Amazônia brasileira para que estas se tornem ainda mais aptas a gerir os seus próprios territórios e influenciar políticas públicas e decisões de gestão nas paisagens em que situam as terras indígenas. [3]
Veja-se ainda outro exemplo recente, o Projeto Cluster:
O Projeto Forest Enterprise Cluster, apoiado pela Usaid, é coordenado pelo Serviço Florestal Americano (US Forest Service) e implementado pelo IEB em parceria com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto Floresta Tropical (IFT) e Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), tem o objetivo de atuar junto à consolidação de planos de manejo praticados por comunidades e indivíduos na Amazônia brasileira.... As ações serão realizadas no Pará, onde o IEB, o Imazon e o IFT têm atuação privilegiada no campo do manejo florestal e onde os desafios parecem maiores, em razão da criação de vastas áreas de florestas de produção. [4]
Resta então a pergunta: porque a Vale estaria financiando ONGs que militam contra os interesses nacionais e outros da própria empresa?
Notas:
[1]Vale lança fundo para projetos sustentáveis, Valor, 11/05/2010
[2]Itamaraty pára 'rolo compressor' da USAID na Amazônia, Alerta Científico e Ambiental, 30/05/2007
[3]http://www.iieb.org.br/site_index.php/comunidade/exibe/121, capturado em 11/05/2010
[4]http://www.iieb.org.br/site_index.php/comunidade/exibe/116, capturado em 11/05/2010